#15 Ligue os Pontos
aquele do desenho de criança
Imagine o seguinte: na sua frente tem uma folha de papel com vários pontos, cada um possui uma letra, e a tarefa diz: ligue os pontos em ordem alfabética. Simples, não? Sim, a não ser que, assim como eu, o seu lápis esteja sempre acompanhado de uma péssima companhia: a ansiedade.
Para uma pessoa que não sofre de ansiedade a ordem das coisas é óbvia: primeiro A, depois B, C, D… Agora, para quem luta em andar desacompanhada dessa condição, nunca existe uma ordem coerente. Pode ser de A para B e depois D, ou de A direto para F, ou até mesmo se as opções são de A à F, existe o desespero em buscar outros pontos e letras que nem fazem parte do desenho. Se você é familiarizado com a ansiedade, acredito que entendeu.
Agora a pergunta é: o desenho se forma completamente se pularmos os pontos?
Eu (e acredito que muitas outras pessoas também), tenho essa tendência de toda vez que uma nova fase está prestes a se iniciar na minha vida, principalmente quando em direção à algo que almejo, já começo a imaginar mil cenários pautados em realidades que não só ainda não se concretizaram, como talvez nem venham a acontecer. E o que acontece é esse salto quântico de um ponto para o outro, que acaba deixando meus desenhos um pouco destorcidos.
Então as coisas na minha vida acontecem, mas é sempre de um jeito esquisito. Sempre fica um ponto em aberto que passa despercebido no caminho e se revela com grande importância no final.
Essa semana foi a primeira vez que conquistei algo sentindo o meu desenho completo, sentindo que consegui driblar o joguinho de mal gosto que a ansiedade me força a jogar e, com muito esforço, liguei ponto a ponto, linha por linha, em perfeita ordem. Vou iniciar uma nova fase conseguindo olhar tudo conectado logo ali atrás de mim, o que formou meu desenho, presente na minha bagagem. O resultado do esforço que eu fiz o ano todo em tentar aprender a fazer uma coisa de cada vez. Ir do primeiro passo para o segundo e então terceiro e assim por diante. Parece fácil, mas conseguir enxergar meus desenhos em perspectiva por inteiro e poder completa-los é uma grande vitória.
Eu literalmente trabalhei em terapia essa analogia, porque como já falei, sou carne e unha com a ansiedade. E essa visão do desenho destorcido que minha terapeuta trouxe, elucidou todo o processo. Ficou tão claro o resultado final de um desenho sem um dos pontos conectados. Torto e desconexo. O que fazia sentido para o mundo lúdico da infância, mas que infelizmente não se aplica graciosamente à vida adulta. Ficou nítida a importância do esforço de realmente dar um passo de cada vez. E essa ideia se esconde em um manto de invisibilidade para pessoas como eu: que além de ansiosas, ainda são ambiciosas e gostam de sonhar grande; já que a tendência é sempre projetar o futuro.
Como minha mãe me ensinou desde pequena:
Nenhum esforço é em vão. Nenhuma experiência é vão. Nenhum tempo investido é desperdício. Tudo o que fazemos, vivemos e investimos sempre será um degrau da escada para chegar em outro lugar.
Então hoje, tenho pensado que realizar sonhos ainda é sim minha motivação diária para acordar de manhã, posso até dizer que seja meu Ikigai (contei mais sobre esse livro na news Fé é Cafona?), mas existe uma importância talvez maior ainda em aproveitar o processo de trilhar o caminho até a realização deles. Ver um sonho sendo realizado é uma das melhores sensações do mundo, mas sentir a vitória das conquistas ao longo do caminho vale a pena tanto quanto. Auto validação concreta.
Como já dizia Miley Cyrus em “The Climb” (sim, vou citar um dos melhores hinos atemporais já compostos, da minha geração):
não é sobre o quão rápido chegamos até lá, não é sobre o que está esperando do outro lado, é sobre a escalada.
Então que eu e você que se identificou com esse texto, continuemos construindo e subindo degrau por degrau, ligando ponto por ponto. Para chegar no desenho final cheios de orgulho sobre a nossa caminhada, celebrando a conquista maior junto à cada detalhinho que contribuiu com a realização dela.



